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Novembro Azul: O toque retal nem sempre é necessário. É preciso quebrar o preconceito, diz oncologista
Segundo o oncologista clínico Victor Hugo Lisboa Lopes, diretor do Cetus Oncologia [hospital dia especializado em tratamentos oncológicos com unidades em Belo Horizonte, Betim e Contagem], o toque no reto sequer é indicado na maioria dos atendimentos, para identificar câncer de próstata
Atualizado em 23/11/2020 s 18:09:17
‘O toque retal nem sempre é necessário. É preciso quebrar o preconceito’, diz oncologista
Médico enfatiza que ‘polêmico’ exame se torna obrigatório, em todas as consultas, apenas nas situações em que homem tem risco aumentado para câncer de próstata devido, por exemplo, à histórico familiar da doença; alguns protocolos podem usar apenas exame de sangue, o PSA, na maioria dos atendimentos.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), vinculado ao Ministério da Saúde, é o segundo tumor mais comum entre os homens atrás apenas do câncer de pele não-melanom, o câncer de próstata deve acometer 65.840 pessoas até o fim deste ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Apesar de sua alta incidência, grande parcela da população masculina costuma negligenciar a prevenção por simples preconceitos. A fake news mais comum sobre o tema é de que o exame de toque retal, uma das etapas de rastreamento da doença, coloca em xeque a masculinidade e ainda pode causar impotência sexual.
Segundo o oncologista clínico Victor Hugo Lisboa Lopes, diretor do Cetus Oncologia [hospital dia especializado em tratamentos oncológicos com unidades em Belo Horizonte, Betim e Contagem], o toque no reto sequer é indicado na maioria dos atendimentos. Ele se torna frequente apenas nas situações em que o homem tem um risco aumentado da enfermidade devido, por exemplo, à histórico familiar da doença ou se pertence à raça negra, entre outros. “Muitos [homens] morrem de câncer de próstata pelo simples temor ao toque retal. Quando descobrem o tumor, infelizmente ela já está em fase metastática. Nesses casos só enfrentam a situação pelo viés da dor e do sofrimento. É preciso quebrar esse ciclo que informação distorcida originado, principalmente, pelo fato de vivermos em uma sociedade extremamente machista”, reflete.
O médico ressalta que o melhor método para investigar neoplasias na próstata é mais simples do que muitos imaginam, por meio de um exame de sangue corriqueiro, feito em laboratório. Ele mede a dosagem de PSA, antígeno prostático específico, proteína produzida pelas células prostáticas que, em número elevado, acima de 6 nanogramas por mililitro de sangue, podem ser um alerta de que o homem tem grandes chances de ter ou já estar com um tumor na glândula. “Esse resultado, no entanto, não determina necessariamente a presença de câncer na próstata, pois, na maioria das vezes, os casos estão relacionados à inflamação, hiperplasia prostática benigna (crescimento da próstata), entre outras anormalidades”, explica Lisboa.
Caso o PSA esteja elevado, aí sim será recomendado ao paciente o exame de toque retal e só depois, para tirar a prova dos 9, uma biópsia da próstata, que por meio da retirada de amostras do tecido da glândula para análise, feita com o auxílio da ultrassonografia, irá confirmar ou não um possível tumor. “Vale lembrar também que um PSA baixo não isenta o risco da doença, Estima-se, por exemplo, que um paciente com a dosagem menor que 1 ng/ml tenha chances aproximadas para detectar um câncer de próstata de 3,37 em 10 anos de seguimento, enquanto que um homem com PSA entre 3-10 ng/ml tenha um risco de 38,96 em igual período. Portanto, o segundo paciente deve ser visto com maior frequência, com avaliação urológica anual, e o primeiro deve ser avaliado a cada cinco anos, caso não tenha nenhum fator de risco”, explica.
Quanto à idade para começar o rastreamento, o diretor do Cetus Oncologia faz a seguinte recomendação: se o homem teve, por exemplo, um parente de primeiro grau com câncer de próstata aos 40 anos ou é negro, o ideal é que ele comece a fazer seus exames aos 35. “Se por outro lado não tem fator de risco, a recomendação da Sociedade Brasileira de Urologia é que essa avaliação comece a ser feita, de forma individualizada, a partir de 50 anos.
Quando detectado precocemente, Victor acrescenta que o câncer de próstata tem mais de 90% de chances de cura. Além disso as temidas consequências do tratamento, entre elas impotência sexual e incontinência urinária, vêm ocorrendo cada vez menos devido à modernização das técnicas terapêuticas. “Na radioterapia, por exemplo, temos intervenções cada vez mais precisas que não comprometem a região, além da cirurgia robótica. O câncer de próstata, por sinal, é o carro chefe da cirurgia robótica. O robô consegue identificar quaisquer nervos com facilidade sem lesá-los”.
Mas para que esse diagnóstico seja precoce, o médico enfatiza a importância do público masculino estar atento à saúde, em todos os aspectos, e incorporar hábitos preventivos. “Culturalmente eles [os homens] não vão ao médico e nem estão ligados nesse assunto quanto as mulheres. Vários têm o hábito de postergar dores e sintomas. Prova disso é que de acordo com uma pesquisa do Centro de Referência em Saúde do Homem, 70% vão a consultas acompanhados das mulheres ou dos filhos e mais de 50% já chegam aos consultórios com doenças em estágio avançado, quando muitas vezes é preciso fazer intervenções cirúrgicas. É mais que necessário mudar essa chave”.
Em sua fase inicial, o câncer de próstata tem evolução silenciosa. Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma ou, quando apresentam, são semelhantes aos do crescimento benigno da próstata: dificuldade de urinar e necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite.
Na fase avançada a doença pode causar dor óssea, sintomas urinários, infecção generalizada ou insuficiência renal.
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